Por Aline Rocha
Principal representante da mobilização política e do engajamento
cultural pré-64, o Centro Popular de Cultura (CPC) tinha em seu projeto a
construção de uma “arte popular revolucionária”, que via na expressão artística
um instrumento de tomada de poder.
Criado no Rio de Janeiro em 1961, ainda no governo de João Goulart, o
CPC era ligado à União Nacional de Estudantes (UNE). Seu engajamento político e
cultural era baseado no Anteprojeto do Manifesto do Centro Popular de Cultura,
feito pelo sociólogo Carlos Estevam Martins. O texto, entre outros ideais,
defendia o esforço dos artistas em tirar as massas da alienação e submissão.
Heloísa Buarque de Hollanda, em seu livro Impressões de Viagem - CPC, vanguarda e desbunde: 1960/70, faz a
seguinte afirmação sobre o a instituição: “A efervescência política e o intenso
clima de mobilização que experimentávamos no dia-a-dia favoreciam a adesão dos
artistas e intelectuais ao projeto revolucionário”.
Ainda a respeito do CPC, Heloísa também afirma que a instituição dividia
os artistas e intelectuais do país em três categorias: conformismo,
inconformismo ou atitude revolucionária consequente. No primeiro caso, o
artista estaria alienado, “perdido em seu transviamento ideológico”. Já no
inconformismo, estariam os artistas que mantinham repulsa pelos padrões
dominantes, aqueles que não percebiam que para estar ao lado do povo, era
necessário mais atitude do que a simples negação dos “propósitos ostensivos dos
inimigos do povo”.
A terceira categoria, a atitude revolucionária consequente, era a escolhida
pelo CPC. Como o próprio Manifesto diz: “Os membros do CPC optaram por ser do
povo, por ser parte integrante do povo, destacamentos de seu exército no front
cultural”.
Entre as produções do CPC, realizadas de dezembro de 1961 a dezembro de
1962, estão a peça Ele Não Usam Black-Tie
e o filme Cinco Vezes Favela, que
reúne cinco histórias de diferentes autores. Além disso, a instituição promoveu
também cursos de teatro, cinema, artes visuais e filosofia.
Mas qual é, afinal, a relação do CPC com a ditadura? Além de refletir a
instabilidade política antes do Golpe Militar, a instituição foi fechada logo
nos primeiros dias de abril de 1964, o que levou à prisão de artistas e
intelectuais e o exílio político. Porém, o projeto do Centro Popular de Cultura
da UNE ainda ecoou em algumas iniciativas, como, por exemplo, no show Opinião,
de 1964, espetáculo musical com texto de Oduvaldo Vianna Filho, Armando Costa e
Paulo Pontes e encenado pelos antigos cepecistas Zé Kéti, João do Vale e Nara
Leão.
Já durante o período da Ditadura Militar, foram abertas outras
instituições ligadas à arte, como o Museu da Imagem e do Som (MIS) do Rio de
Janeiro (1965) e de São Paulo (1970), e a Fundação Nacional de Arte (FUNARTE),
órgão criado em 1975.
Além disso, o Grupo REX, criado em 1966 por Wesley Duke Lee, Geraldo de
Barros e Nelson Leirner (1932), também trouxe irreverência ao movimento
artístico da época com exposições e happenings
que traziam críticas ao sistema de arte vigente, que na opinião do grupo
tratava o objeto artístico como mera mercadoria. O grupo, porém, durou pouco
menos de um ano, se extinguindo em maio de 1967.
Capa do primeiro número do Jornal Rex: a guerra é com o mercado da arte |
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